quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Editores: Grupos disciplinares de HGP e História                                  número II


Jornal do Tempo

Descobrimento do Brasil

Carta do Achamento do Brasil

Transcrição da Carta 

" Senhor, posto que o Capitão-mor desta Vossa frota, e assim ou outros capitães 
escrevam a Vossa Alteza a notícia do achamento desta Vossa terra nova, que se
agora nesta navegação achou, não deixarei de também dar disso minha conta a 
Vossa Alteza, assim como eu melhor puder, ainda que -- para o bem contar e 
falar -- o saiba pior que todos fazer! (…)
A partida de Belém foi como Vossa Alteza sabe, segunda-feira 9 de março. E
sábado, 14 do dito mês, entre as 8 e 9 horas, nos achamos entre as Canárias,
mais perto da Grande Canária. E ali andamos todo aquele dia em calma, à vista
delas, obra de três a quatro léguas. E domingo, 22 do dito mês, às dez 
horas mais ou menos, houvemos vista das ilhas de Cabo Verde, a saber da
ilha de São Nicolau, segundo o dito de Pero Escolar, piloto. (…)! 
E assim seguimos nosso caminho, por este mar de longo, até que terça-feira das
Oitavas de Páscoa, que foram 21 dias de abril, topamos alguns sinais de terra,
estando da dita Ilha -- segundo os pilotos diziam, obra de 660 ou 670 léguas . 
(…)
Neste mesmo dia, a horas de véspera, houvemos vista de terra! A saber, 
primeiramente de um grande monte, muito alto e redondo; e de outras serras
mais baixas ao sul dele; e de terra chã, com grandes arvoredos; ao qual monte
alto o capitão pôs o nome de O Monte Pascoal e à terra a Terra de Vera Cruz! 
(…)
E dali avistamos homens que andavam pela praia, uns sete ou oito, segundo
disseram os navios pequenos que chegaram primeiro. (…)
A feição deles é serem pardos, um tanto avermelhados, de bons rostos e 
bons narizes, bem feitos. Andam nus, sem cobertura alguma. Nem fazem mais
caso de encobrir ou deixa de encobrir suas vergonhas do que de mostrar a cara. 
Acerca disso são de grande inocência. Ambos traziam o beiço de baixo furado e
metido nele um osso verdadeiro, de comprimento de uma mão travessa, e da 
grossura de um fuso de algodão, agudo na ponta como um furador. Metem-nos
pela parte de dentro do beiço; e a parte que lhes fica entre o beiço e os dentes é
feita a modo de roque de xadrez. E trazem-no ali encaixado de sorte que não os
magoa, nem lhes põe estorvo no falar, nem no comer e beber. (…)
Beijo as mãos de Vossa Alteza.
Deste Porto Seguro, da Vossa Ilha de Vera Cruz, hoje, sexta-feira, primeiro dia
de maio de 1500. “



Pêro Vaz de Caminha
in Arquivo Nacional Torre do Tombo

Trabalho  da Profª Madalena Esteves